Meu sonho é vencer um bracelete no poker e dar cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto', afirma André Akkari

Renato Piccinin, para o ESPN.com.br

DIVULGAÇÃO / POKERSTARS
Akkari
André Akkari é um dos maiores nomes do poker brasileiro
Dez anos atrás, André Akkari mal imaginava que ter um par de ases na mão podia ser algo tão emocionante. Em 2005, ele ainda era sócio de uma pequena empresa de tecnologia quando foi apresentado ao poker por um cliente. Começou a jogar, deixou o trabalho e decidiu ser profissional do esporte.
Já não mais por escolha, mas sim com muitos estudos, disciplina, talento e resultados expressivos como o título em 2011 de um World Series of Poker (WSOP) - mundial da categoria - se transformou em um dos embaixadores e maiores responsáveis pela divulgação da modalidade no Brasil. Nesta entrevista exclusiva, ele conta como foi o início de tudo e discorre sobre diversos temas relacionados ao poker.
Como você entrou para o mundo do poker?
Comecei em 2005. Tinha acabado de montar uma empresa pequena de tecnologia, desenvolvimento de site e e-commerce com mais dois sócios e a gente tinha um parceiro em Nova Iorque. Um dia ele nos mandou um trabalho de um site de poker no qual nós faríamos a parte de tecnologia. Tive que instalar o software e comecei a gostar, entrar nas mesas e me interessar. Comecei a estudar e assistia também às transmissões da World Series of Poker na ESPN, que tinha narração do Christian Kruel.
Qual foi o seu primeiro livro sobre a modalidade?
Foi o Hold'em Poker For Advanced Players. Lia sempre que tinha tempo, mas era difícil, porque na época meu inglês era terrível. Ficava tentando traduzir a parada para ver se conseguia evoluir. O engraçado é que depois descobri que era um livro de "limit Hold'em" e não de "no limit". Mas valeu para conhecer grupos de mãos, como jogar em cada posição da mesa, essas coisas básicas. Depois comecei a ler tudo que aparecia.
E como foi essa evolução?
Em 2006 eu já estava tendo ganhos regulares, 300, 400 dólares por mês, mesmo dividindo o poker com o trabalho. Aí decidi que se me dedicasse "full-time" ao poker, jogando e estudando, teria resultados melhores.
E foi fácil convencer a família a ter essa mudança radical?
Falar com a minha esposa não foi uma missão fácil, mas nem foi tão difícil também. A gente estava muito mal de grana e ela sempre deu aval pras loucuras que eu queria fazer. Essa loucura deu certo.
Com os sócios também foi tranquilo?
Foi. Eles foram muito parceiros, falaram para me dedicar a isso e caso não desse certo para eu voltar. Se desse certo, nós andaríamos juntos. E foi o que aconteceu. Durante alguns anos eles produziam as loucuras que eu inventava de poker, como o site Super Poker. Hoje a gente se encontra e dá risada de como tudo aconteceu.
Existe uma grande diferença entre a estrutura do Poker no Brasil e em países na Europa ou Estados Unidos?
Há uma discrepância, sim. Bem grande, aliás. Não na questão de público, que gosta muito e na mesma velocidade do que lá fora, nem na questão de organização de eventos, que o Brasil é top. As empresas que organizam o Brazilian Series of Poker (BSOP) fazem isso de forma perfeita. A minha questão aí é quanto ao mercado, da aceitação do poker, da relação do esporte com o governo. Isso é algo que o Brasil sempre atrasa para construir. Na parte educacional e na evolução técnica também estamos atrás. Lá fora as pessoas jogam melhor do que aqui, mas existe um grupo que está muito forte por aqui, que viaja e tudo mais.
Qual sonho você tem para o poker brasileiro?
Acho que é um novo sonho, porque eu tinha o que está acontecendo agora: hoje em dia o Ronaldo está no Pokerstars e o poker é jogado em todos os lugares. Eu até dou autógrafo na rua, coisa que nunca imaginei que fosse acontecer na minha vida. As minhas filhas e minha esposa têm orgulho de mim. Seria legal o poker no Brasil trilhar o mesmo caminho da Europa e dos Estados Unidos, mas o BSOP Million mostra que estamos num estágio maravilhoso já. Talvez um sonho seja a gente ganhar um bracelete e descer a rampa do Palácio do Planalto dando cambalhota igual ao Vampeta em 2002. Acho que seria legal um presidente recebendo um jogador de poker e os brasileiros valorizarem os atletas de esportes da mente. Eu sou candidato a dar essa cambalhota, mas tem que ser logo, senão chegou aos 50 e fica puxado dar cambalhotas.
Quem é o seu ídolo na modalidade?
É o (Daniel) Negreanu (cinco vezes campeão da World Series of Poker). Ele é o melhor conjunto da obra. É um cara que faz muito bem para o poker: transmite o que o esporte tem de melhor pras pessoas, é um cara simpático, não usa drogas, não enche a cara, não briga, trata todo mundo bem e é bom pra caramba tecnicamente. Acho que a figura de um ídolo tem que ser assim, mais do que avaliar só a parte técnica.
Qual dica você daria para quem está começando a jogar?
Se você resolver jogar uma mão, aposte, não pague. Essa é a melhor dica. As pessoas são muito dependentes das cartas comunitárias, elas têm as duas cartas e querem que elas batam com as cartas que viram. Mas o poker não é sobre isso. O poker é um jogo sobre botar pressão nas pessoas para que elas fujam independentemente de você acertar as cartas. Mas isso é difícil de entrar na cabeça das pessoas e, quando entra, o cara muda de nível.
E uma dica para quem já é profissional?
Dicas técnicas os caras que são profissionais têm várias. É mais uma dica de profissão: tem que focar todos os dias, dormir e acordar com o livro da disciplina debaixo do braço. Tem que ser disciplinado, senão não tem carreira. Todo jogador de poker é ambicioso e às vezes querem que as coisas aconteçam antes do tempo. Quer jogar um torneio que não é hora de jogar e isso é muito ruim pra carreira.
http://espn.uol.com.br/

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