Pouco out e muita sorte? Jorge Moutella comenta erros e acertos na final do BSOP
12/08/2015 - 19h20, por SuperPoker

Dizem que uma das piores coisas que pode acontecer a um jogador de poker é a sorte em um tipo de torneio no qual ele é principiante. Em sua estreia naquele nível de buy-in, um jogador pode usar toda sua confiança e se sair bem com a variância, para então, nos jogos seguintes, ir mal por insistir em passos maiores que as pernas - até finalmente se tocar que aquilo foi sorte.
Com tantos comentários sobre a final da 4ª etapa do BSOP (Brazilian Series of Poker), que aconteceu no começo no mês em São Paulo, há quem diga que a sorte pode ter atingido em cheio o jogador Jorge Moutella. Jogador [realmente] recreativo, o morador de Taubaté, no interior paulista, nunca tinha jogado um torneio de poker com mais de 40 pessoas. No Main Event, o comerciante simplesmente eliminou todos os jogadores da mesa final, incluindo o favorito ao título Marcel Carli, que abriu o dia final na liderança e chegou a ampliar a diferença em relação ao segundo colocado logo no começo do dia.
Muitos justificam a sorte de Moutella na mesa final pelo showdown das cartas que resultaram em eliminação. Na jogada que teve a queda do 8º lugar, o maior pote do torneio, Moutella recebeu KK no botão e trincou logo no flop. Pouco depois, na eliminação do 5º lugar, ele recebeu mais um KK e levou a melhor contra o AK de Luis Simões. Na queda de Carli, na 4ª colocação, Moutella segurava duas pontas para uma seguida com TdJd no flop 8d9hT enquanto Carli tinha QQ. O poker pro shovou e Moutella deu call com mais fichas, porém, perdendo, mas um 7c no turn completou ostraight.
Aparentemente, de um início de decisão com 18 BBs (abaixo da média) até a liderança disparada depois do maior pote do torneio, o deuses do poker abençoaram quem recebeu as melhores cartas - no caso, Moutella - já que a estrutura ficou mais apertada e resultou em mais all in-call. Mas para quem sentou à mesa, o ritmo acelerado de quedas estava ligado à alta pressão da FT. "Eu peguei uma dinâmica de agressividade na mesa. A pressão influenciou na velocidade do jogo", lembra Moutella.
Foram necessárias não mais que 30 mãos para que a FT se reduzisse ao heads-up - que por sua vez teve mais 45 mãos.
O campeão reconhece a sorte, mas lembra que é preciso aproveitar mãos premium. "Na realidade, (as cartas) ajudaram, sim. Mas se você encontrar uma mão premium, tem que envolver o pessoal, saber extrair. Mas o mais importante dentro do processo final puxei vários potes sem ter cartas também".
E não foi só na mesa final que Moutella segurou o sorriso quando o dealer deu as cartas. No Dia 2, o recreativo recebeu quatro pares de Às em um período de duas órbitas. Chip leader do Dia 1B, Moutella abriu uma arrancada em fichas com as boas mãos que recebeu, saiu de 800 mil para 1,6 milhão de fichas e no fim fechou o Dia 2 na liderança do torneio.
"Eu sou um jogador recreativo. Tenho muitas deficiências, avaliando aqui. Na mão com o Carli, por exemplo, eu tinha vários outs, mas analisando a mão vejo que estou dominado, jogando pelosouts", conta Moutella.
Tão importante quanto aproveitar boas cartas e ter o baralho eventualmente a favor é ler os oponentes. "Teve uma AA que recebi e vi que o jogador não tinha nada. Deixei ele dominar o jogo até achar uma carta e vir pra cima de mim com um blefe de all in", diz Moutella, que é capaz de ficar horas dissecando mãos com base na imagem dos jogadores que formou nos últimos dias de torneio. "Na FT eu joguei com o Lucke. Você começa a reconhecer o jogador e a imagem que você passa pra ele. A jogada era uma jogada que passava imagem de blefe meu, pois eu já tinha feito isso várias vezes. Ele pagou porque tinha certeza que era blefe em cima dele".
A mão que Moutella se refere foi a última do torneio. Na mão, Lucke subiu para 800 mil nos blindsa 200 mil/400 mil ante 50 mil e Moutella 3betou para 1,5 milhão. O flop abriu A37 e Moutella apostou 2,5 milhões. Lucke deu call e um 4 abriu no turn. Moutella shovou suas 15 milhões de fichas - praticamente o mesmo stack de Lucke (14,3 milhões). Depois do call, o showdown de A7 de Moutella prevaleceu sobre os Q7s de Lucke mesmo depois do J.
Moutella reconhece que Lucke tinha uma imagem nítida de seu jogo. "Eu brinco q ele teve três vidas nessa mesa final. Primeiro aquele fold com showdown de AK dele que eu tava trincando de K. Ele deu um bom fold. Qualquer outro teria perdido o torneio ali. Ele foldou, mas ficou com uma imagem muito boa na mesa".
E não foi só dentro de seu primeiro torneio grande da vida que Moutella teve uma "imagem". Mesmo dias depois de levantar o troféu, colocar o bracelete da série no pulso e R$ 570 mil no bolso, o jogador recreativo passou a ver sua própria imagem na mídia. "É um BBB de quatro dias! Mesmo depois a imprensa ainda procura para conversar. O negócio é surreal. As solicitações de amizade nas redes sociais, as mensagens de apoio no celular... até mesmo a rádio local. Isso ainda está se prolongando".

O efeito da vitória no Main Event foi imediato no "lado" jogador de Moutella, que logo se reuniu e festejou com amigos de três clubes, dentre os amigos estiveram Lucas Iglesias, que ficou em 3º lugar no BSOP Millions 2014, e Ciro Gomes, jogador recreativo que impediu um heads-up histórico entre o presidente da CBTH (Confederação Brasileira de Texas Hold'em), Igor Federal, e André Akkari e cravou o High Rollers da série em Rio Quente, em maio deste ano.
Até a patroa aliviou para o lado de Moutella. "O vale poker night subiu de uma para duas vezes na semana", brinca ele. "Estarei em Natal. Fiquei em terceiro (no satélite), mas era uma vaga só. Vou jogar mais online pra melhorar meu jogo".
O próximo BSOP acontece em Natal entre 27 e 31 deste mês. Os satélites diários para o Main Event acontecem diariamente nas mesas online do PokerStars.
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